IDG conclui obras de valorização do sítio arqueológico Cais do Valongo

 

As obras de valorização do Cais do Valongo foram concluídas e o sítio arqueológico foi entregue para a comunidade nesta quarta-feira, 23 de novembro. Resultado de uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro, Iphan, State Grid e IDG, o projeto também teve a participação da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, em sua primeira fase, com as obras de conservação e estrutura, que foram fundamentais para a manutenção do título de Patrimônio da humanidade concedido pela UNESCO. A iniciativa também contou com apoio do Comitê Gestor formado por 15 instituições representativas da sociedade civil e 16 governamentais nas esferas federal, estadual e municipal, contando com 31 membros titulares, cada um com um suplente.

 

Para marcar a entrega, foi realizado um evento no local com a presença de Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, Leandro Grass, presidente do Iphan; Aloízio Mercadante, presidente do BNDES, Ricardo Piquet, diretor-geral do IDG -  Instituto de Desenvolvimento e Gestão, Jacqueline Ward, cônsul-geral dos Estados Unidos, Sun Tao, representante da State Grid Brazil Holding; Gracy Mary, representante do Comitê Gestor, e Isabel de Paula, coordenadora de Cultural da UNESCO.  A Mãe Edelzuita foi responsável por guiar uma lavagem do território antes das falas das autoridades.

 

Localizado na região da Pequena África, no centro do Rio de Janeiro, o Cais do Valongo foi revelado durante as obras do Porto Maravilha, realizadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2011, e foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2017 por ser o principal cais de desembarque de africanos escravizados em todas as Américas e o único que se preservou materialmente. No mesmo ano, foram iniciadas as negociações para o projeto de revitalização do sítio arqueológico.

 

Em 2018, a Missão Diplomática dos EUA no Brasil investiu US$500mil, cerca de R$2,5 milhões nas obras no Cais do Valongo. O investimento feito com recursos do Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural (AFCP) representa a valorização da herança afrodescendente compartilhada entre Brasil e Estados Unidos. As obras foram concluídas em 2021 e apresentadas durante o evento "Celebra Valongo", que marcou também o encerramento das atividades virtuais de educação patrimonial e cultural do projeto ‘(A) gentes do Valongo.’

 

“Essa iniciativa reflete a nossa crença de que toda cultura tem valor e que o patrimônio de todos merece ser preservado para as gerações futuras. Peço gentilmente que todos façam as vozes do Valongo serem ouvidas por todos que ali passarem. E que, no futuro, todos conheçam suas histórias e aprendam com elas”, disse a cônsul-geral Jacqueline Ward.

 

“Entregar esse projeto é colaborar para o fortalecimento da herança africana e chamar atenção para a violência praticada por mais de três séculos aos africanos que foram trazidos ao Brasil. Para além da entrega do espaço físico, nosso objetivo é levantar reflexões sobre o regime escravagista e suas consequências vivas até os dias de hoje. Nós, do IDG, temos muito orgulho de todo trabalho realizado neste sítio, ao lado de apoiadores e parceiros tão relevantes e que foram essenciais em viabilizar essa entrega, como as instituições presentes no território, os órgãos governamentais. É um projeto realizado sem verba pública direta graças ao apoio dos financiadores”, disse Ricardo Piquet, Diretor Geral do IDG -  Instituto de Desenvolvimento e Gestão.

 

“As intervenções do IDG no Cais do Valongo visam contribuir com a preservação da memória e o reconhecimento histórico do local, que foi o principal porto de chegada dos africanos escravizados nas Américas. As obras tornarão o espaço mais acessível e seguro, e o projeto de módulos expositivos, uma exposição a céu aberto,  propõe uma reflexão crítica sobre o período da escravização e suas sequelas”, explica Sergio Mendes, Diretor de Projetos do IDG.

 

“O projeto de valorização do Cais do Valongo está alinhado ao propósito da State Grid, uma empresa que compartilha duas culturas e reconhece a importância de respeitar o valor histórico e cultural de um local que é patrimônio mundial. Por isso, em cada ação que tomamos aqui sempre tivemos o cuidado de contribuir com um bem que ficará de legado para toda a sociedade. Foi pensando nisso que compramos a ideia do projeto e, agora, com muito carinho e felizes com a conclusão das obras, reafirmamos a nossa vocação de apoiar a proteção da herança cultural e histórica do país” – acrescentou o diretor de Saúde, Segurança e Meio-Ambiente da State Grid Brazil Holding, Ricardo Felix.

 

Com um total de investimento de mais de R$ 2 milhões pela transmissora de energia elétrica State Grid Brazil Holding, por meio de financiamento pela linha de  Investimento Social para Empresas - ISE, do BNDES, a entrega desta segunda e última etapa compreende a adequação física do local, a sinalização do sítio arqueológico e a instalação de  módulos expositivos, com totens que irão contar a história da região, sob curadoria da professora Ynaê Lopes dos Santos, historiadora especialista na História da escravidão e das Relações Raciais nas Américas.  

 

Entenda as fases do projeto

 

Toda a obra de revitalização contou com duas etapas: a primeira delas, iniciada em 2019, foi realizada em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos. O trabalho consistiu na pesquisa para identificar vestígios de importância arqueológica no local, além do acompanhamento do início das obras e da execução de procedimentos de conservação, como por exemplo, a limpeza do solo, contenção de erosões, reforço estrutural do muro, entre outras intervenções.

 

A segunda fase foi executada em parceria com a State Grid Brazil Holding, por meio de financiamento pela linha de Investimento Social para Empresas - ISE, do BNDES. O IDG desenvolveu e implementou a instalação do guarda-corpo para proteção do sítio arqueológico e do próprio público, realizou a construção de nova mureta, a sinalização, a instalação do módulo expositivo e todo o projeto urbanístico do local. Já o projeto de iluminação do sítio histórico, que foi desenvolvido pelo IDG e implementado pela Prefeitura do Rio por meio da RIOLUZ/SMARTLUZ, foi pensado para realçar traços arquitetônicos do sítio arqueológico e criar uma experiência visual, sem comprometer a integridade arqueológica do sítio. Na iluminação cênica, as luzes coloridas em monumentos podem ser utilizadas em datas comemorativas em prol de causas sociais.

 

O projeto de sinalização, que teve como base técnica orientações do Iphan e da UNESCO, integra o Cais do Valongo no circuito de herança africana na região, conectando, através de referências visuais e placas indicativas, outros pontos de interesse como a Pedra do Sal, o Jardim Suspenso do Valongo e Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira - MUHCAB. Por fim, com o objetivo de levar informação ao público que frequenta o local, foi implementada uma exposição a céu aberto sobre a importância histórica atual da Pequena África, seus espaços e agentes de território.

 

O IDG também atuou na implementação de projetos educacionais sobre o Cais do Valongo. Desenvolveu e colocou em prática, por exemplo, o “Valongo, Cais de Ideias”, que formou educadores para a valorização das memórias e histórias do local. Já o “(A) gentes do Valongo” foi direcionado para a população local da Zona Portuária, e teve como objetivo provocar a troca de ideias e conhecimentos sobre o Sítio Arqueológico e sobre a atuação dos diversos agentes da Pequena África. Foram realizados dez encontros virtuais com 20 instituições da região e a participação de mais de 200 pessoas que se inscreveram, cujo perfil eram estudantes universitários e profissionais de turismo do Rio.

 

Histórico do projeto

 

Em 2017, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro - via Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Educação e Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) - representaram o governo brasileiro perante a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e assinaram o Plano de Promoção Arqueológica do Cais do Valongo. No documento as instituições mencionadas comprometem-se a elaborar e executar um plano para reforçar o valor universal excepcional do sítio arqueológico e inseri-lo na malha urbana da cidade. O objetivo geral foi o de realizar ações de pesquisa, promoção e socialização, a fim de ressignificar a relação entre o bem cultural e o seu entorno urbanístico e paisagístico. 

 

Os projetos desenvolvidos pelo IDG foram apresentados e debatidos no âmbito do Comitê Gestor do Cais do Valongo, instância de governança do bem Cultural Patrimônio Mundial, reinstituído pela Portaria Iphan nº 88 de março de 2023. Direcionado para a gestão compartilhada e participativa do sítio, o grupo é composto por 15 instituições representativas da sociedade civil e 16 governamentais nas esferas federal, estadual e municipal. Entre as instituições integrantes estão o Ministério da Cultura (Minc), a Fundação Palmares e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O Iphan coordena os trabalhos do comitê. 

 

Entre os objetivos essenciais do Comitê Gestor estão promover a instalação da estrutura de gestão integral, compartilhada e participativa do Sítio; estabelecer as diretrizes para a execução das ações propostas no plano de gestão; monitorar a efetividade das ações governamentais necessárias à preservação e salvaguarda do bem; e promover a articulação entre as políticas municipal, estadual e federal que incidem sobre o Sítio Arqueológico.